quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Magos

As referências a Reis Magos (Gaspar, Melchior, Baltazar) levam-nos imediatamente ao registo do Novo Testamento, sobre o seu fugaz e misterioso aparecimento aquando do nascimento de Jesus Cristo. Seguindo uma estrela, encontraram o filho de Maria, e entregaram presentes na forma de ouro, incenso e mirra. Este é o registo bem conhecido que aprendemos desde crianças, notando ainda que em Espanha é no dia 6 de Janeiro que se distribuem os presentes natalícios.

As referências a Magos aparecem noutro contexto dos descobrimentos portugueses. Por exemplo, no Livro dos Três Místicos, a que tive apenas acesso a esta página:

encontramos nas margens laterais os possíveis místicos/magos (à esquerda, um vestido de castanho e outro de verde; à direita, um vestido de vermelho e outro de azul). Do lado direito contrasta, uma representação cadavérica, com a estilizada, do lado esquerdo. O livro é de D. Manuel, tratado como César Manuel.

Na obra de Francisco de Souza (1570) encontramos esta referência a uma ilha Santa Cruz dos Reis Magos, a oeste da Madeira:
A oeste da Ilha da Madeira 65 ou 70 legoas, está uma grande Ilha que se chama Santa Cruz dos Reis-magos, que tem de comprido trinta legoas, e de largo no mais estreito quinze legoas, e pola banda do sul está em 32 graos, e corre athé 34 ao norte, e corre-se noroeste susueste, e tem por todas as faces grandes Bahias e enseadas, grandes arvoredos, e Ribeiras, e boas agoas, como d'isto mais largamente tenho informações dos antigos, e se arruma pola maneira aquy posta em uma carta Franceza, que tenho onde está aluminada, e presumesse que tem gado.
Tal ilha não existe, e a melhor descrição para possível localização será na zona referenciada aqui, onde há assinaláveis baixios... a menos que a Ilha da Madeira fosse outra, ou que o livro tivesse uma especulação falsa, não censurada pela Inquisição. 
Na Madeira, acabamos por encontrar afinal uma outra referência, à Praia dos Reis Magos, em Santa Cruz, é ainda na Madeira que encontramos o profundo Canhão da Calheta, tal como o Canhão da Nazaré.

No Brasil, na cidade de Natal, encontramos a Fortaleza dos Reis Magos, edificada em 1598:

Natal, Belém, Reis Magos, na mesma zona nordeste do Brasil, acabam por estar associadas na toponímia ao nascimento de Cristo... acidentalmente, ou não, já que as habituais explicações se mostram com a fortuitidade da cidade, ou do forte, ter sido erigido em data natalícia.

Ainda em Portugal, acabamos por ter uma antiga localidade pré-histórica, cujo nome Salva-Terra de Magos, tem origens desconhecidas, mas consta prender-se com uma origem associada a magos persas.

Continuando por essa associação persa, vamos aos antigos registos de magos, mais precisamente recuamos ao tempo de Zaratustra, e a Ka'ba-ye Zartosht:

(continua...)

sábado, 18 de setembro de 2010

Teogonias (1)

A Teogonia de Hesíodo (séc. VIII a.C) é talvez um dos relatos mais interessantes da criação do mundo. 
Do Caos, surge a Terra (Geia) e o Céu (Úrano/Celus), mas também alguns deuses primevos mais estranhos, como o Amor (Erébo) que dá origem ao Dia e à Noite... ainda antes da criação do Sol. O relato judaico bíblico da origem da luz, também separa o dia da noite (1º dia), antes da criação do Sol e estrelas (4º dia).
Não havendo registo único e claro da Teogonia grega, nesse tempo inicial Hesíodo considera ainda Pontos (mar primevo) e Tártaro (mundo inferior).
Durante muito tempo ficou a designação de Ponto Euxino para o Mar Negro, ambas as designações sugerindo que o mar primevo seria aquele espaço. A essa visão circunscrita à região, juntamos a designação de Tártaros aos habitantes da região que seria também depois dos Medos. É ainda aí, na Cólquida (vizinha da Ibéria caucasiana), que se situam muitos dos mitos gregos... e também é comum associar aí o mito diluviano (resultante duma eventual abertura do estreito do Dardanelos).

O mapa de Heródoto - reconstrução na Biblioteca do Congresso (Washington DC)
põe em evidência a importância do Mar Negro (Pontus Euxinus), do Mar Cáspio (Kaspion Pelagus/Caspium Mare), e do Mar de Azov (Maiotis Limne/Palus Maeotis), estes últimos considerados mares verdes. 
Notamos que o mar Vermelho (Eritreu) é associado ao Índico e o outro é denominado golfo Arábico; outro facto que se evidencia é a notação Celta, para uma larga região hispânica após as colunas de Hércules.
Talvez o mais importante é notar uma tripla divisão continental: Europa, Ásia e Líbia... o nome África é muito posterior - e nunca foi claro que designasse apenas a África actual (... poderia incluir a América).

Neste primeiro apontamento sobre Teogonias, o que importa deixar claro é que estas efabulações parecem ser ridículas face ao nosso entendimento científico, mas não o são necessariamente.
Porquê? Porque envolvem uma formação progressiva, e não simultânea.

Não há nenhuma razão para dissociar o dia/noite do aparecimento do Sol... isso seria óbvio para qualquer entendimento, por mais primitivo que fosse. Essa separação vai contra o nosso bom senso!
Qual a razão de uma Teogonia que vai contra o mais elementar bom senso? 
- A única razão plausível parece ser reportar-se a uma realidade diferente.
Ou seja, os relatos antigos parecem levar-nos a uma realidade temporal onde poderia haver Luz sem Sol.
Isso não faz nenhum sentido...
- pois, mas também não faz nenhum sentido Deus criar o homem à sua imagem (na versão bíblica), ou falar-se em deuses gregos antropomórficos. 

Tratam-se de mitos claramente antropocêntricos, e colocam necessariamente a Terra na origem da criação. 
Ou seja, a concepção planetária, com a inclusão do Sol, só poderá ser uma versão posterior de uma construção universal, que se inicia na Terra. 
Digamos que a construção divina não teria ficado completa numa única fase...
- talvez numa fase inicial, tivesse havido uma Terra plana, com um mar circundante, e um céu delimitador;
- talvez só numa fase posterior, tivesse sido criado um Sol como fonte de luz;
- só ainda em fase posterior, aparece a presença humana, distinta da presença divina, num mundo essencialmente diferente daquele que conhecemos hoje!
- só numa fase mais recente a Terra foi definida como esférica, e só depois a rotação solar passou a heliocêntrica... e da mesma forma, só posteriormente foram definidas estrelas semelhantes e galáxias.

Em suma, descreve-se aquilo que é normalmente entendido como a evolução da compreensão humana, por deficiência de conhecimento... Mas por força da relatividade do conhecimento, tanto podemos aceitar que isso foi deficiência humana, como poderá ter sido constatação humana, sem deficiência especial. Tudo depende se a crença é científica nos moldes actuais, ou se credita alguns fundamentos míticos.

O outro ponto especial, onde os relatos míticos concordam, sem razão histórica aparente, é na existência de uma "idade de ouro", associado a um tempo de felicidade e imortalidade humana, antes do estabelecimento da Idade do Cobre.
É o tempo de supremacia de Cronos/Saturno, filho de Úrano e Gaia, ceifador da genitália paterna que ao cair no Oceano produz Afrodite. Cronos é implacável para os seus filhos deuses, mas é tido como exemplar para os humanos... os romanos dedicavam a Saturno/Cronos, as Saturnálias - que podem ter motivado a celebração posterior do Carnaval... onde os papéis escravo/senhor eram invertidos.
Prometeu levando o fogo aos humanos.

Associar-se-à o tempo feliz de Cronos a um eventual tempo do Jardim do Paraíso... antes dos mitos da tentação do conhecimento de Eva e de Pandora-Prometeu. Altura em que alguns homens procuraram imitar os deuses, e definindo escravos passaram a assumir o destino destes, quais deuses. 
É nessa terceira fase que aparece o mundo de Zeus, o filho de Cronos, que depõe o pai (Saturno é visto no seu exílio divino como um rei humano do Lácio), e que se inicia a construção do mundo como o conhecemos... um mundo pós-diluviano! 
Os mitos/relatos antigos mantêm-se, mas deixam de fazer sentido na nova construção universal... a Terra deixou de ser plana e rodeada por água! 
Os humanos passam a estar sujeitos aos caprichos do Dodekatheon (o Conselho dos 12 deuses do Olimpo, comandados por Zeus)... as lembranças de Cronos, do Paraíso Perdido, passaram a fazer parte do passado!

Como apontamento final, ligando ao post anterior sobre a Moeda, notamos que não há propriamente nenhum Deus ligado ao dinheiro... o que demonstra de alguma forma que esse aspecto civilizacional, ligado ao aspecto social do comércio, embebeu a sua importância no tempo muito mais recente (após Alexandre).
Mesmo Hermes/Mercúrio, era um deus mais ligado à comunicação, mensagem, conexão que só parcialmente se aplicava no comércio.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Contos de reis

A moeda é o maior e mais extenso acordo social, que actualmente cobre todo o planeta Terra.
Se houver desacordo constante entre a valoração dos bens, a moeda é ineficaz.
Actualmente (*) a moeda tem um suporte em ouro, mas isso pressupõe que o próprio ouro é reconhecido como material valioso por todas as sociedades... coisa que estava longe de ser comum há 500 anos atrás. A civilização ocidental acabou por exportar essa valoração de um metal precioso que era banal em civilizações pré-colombianas.
A maior difusão da moeda, conforme a conhecemos, começou especialmente com Alexandre Magno, período do qual restam ainda muitas moedas, de ouro, prata, etc.
Moeda de ouro de ALEXANDROU (Alexandre Magno) [imagem]

A utilização de moedas foi depois extensa no período Romano, usando os mesmo moldes... uma cara do governante, e uma coroa que outorgava. O ouro passou a ser indubitavelmente o metal precioso de eleição.
Esta influência foi transmitida aos povos bárbaros, existindo mesmo cópias celtas de moedas gregas.

Independentemente dos análogos noutras culturas, nomeadamente na chinesa, a influência do mundo greco-romano fez-se ainda pelo acordo social que uniu diversos povos numa convenção de valoração da moeda, e especialmente do ouro, enquanto sistema de troca.
Ao longo da Idade Média essa convenção social foi-se solidificando, mas esse período era ainda marcado pela diferença explícita entre castas sociais aristocratas, onde as trocas eram maioritariamente directas - as populações viajavam pouco. O reconhecimento do poder do dinheiro, acabou por ser selado a partir do fim da Idade Média, pelas Cruzadas e início das Descobertas, ao fazer aparecer um poder de sedução popular nas mãos de uma classe burguesa, não aristocrata. 
O valor da moeda nas transacções deu um poder à burguesia na cativação do povo, e o estatuto de servidão podia ser inato, mas também passou a ser comprado por adesão à riqueza implícita na troca aceite de bens. O reconhecimento progressivo da moeda acabou por comprometer o ascendente militar, nas relações humanas, e a ascenção da burguesia na Alta Idade Média. 

O período de Descobertas no séc. XVI é extremamente interessante pois marca o início do choque valorativo. Uma Europa sedenta de ouro encontraria civilizações que menosprezavam essa mais valia.
A produção de moedas de ouro, começa a ser extensa em Portugal, a partir de D. Duarte, denunciando já implicitamente contactos com paragens onde o ouro é abundante...
Meio Real (D. Duarte) [imagem

O Infante D. Henrique terá talvez sido o grande artífice dessa economia à escala global.
A transacção efectuada sob segredo das diferenças culturais, permitia lucros fabulosos, e o próprio início da escravatura em África terá tido como motivo, não apenas a mão-de-obra gratuita, mas também como moeda de troca civilizacional, conforme descreve Duarte Pacheco Pereira (Esmeraldo Situ Orbis, pag. 50):

(...) os quaes no modo do seu comercio tem esta maneira. Todo aquele que quer vender escravo ou outra cousa se vai a um lugar certo para isto ordenado & ata o dito escravo a uma árvore & faz uma cova na terra daquela quantidade que lhe parece bem & isto feito arreda-se fora um bom pedaço & então vem o Rosto de Cam & se é contente de encher a dita cova de ouro, enche-a & senão tapa-a com a terra & faz outra mais pequena & arreda-se fora & como isto é acabado vem seu dono do escravo & vê aquela cova que fez o Rosto de Cam, & se é contente aparta-se outra vez fora & tornado o Rosto de Cam ali enche a cova de ouro & este modo têm em seu comercio & assim nos escravos como nas outras mercadorias & eu falei com homens que isto viram & os mercadores Mandiguas vão às feiras de Bétú & Bambarraná & Dabahá comprar este ouro que hão daquela monstruosa gente & tornado o Rio de Guambea (...)

O segredo da diferença de valores foi uma moeda bem explorada pelo comércio português... como é sabido, bugigangas eram trocadas por metais preciosos (ou outras raridades na Europa e Islão).
Afinal, acima da moeda, ainda imperavam os segredos de regime como maior valia. O acesso à corte poderia ser facilitado por dinheiro, mas não assegurava o conhecimento dos códigos que regiam a aristocracia.
Apesar da ascenção da burguesia, esse poder permaneceu em grande parte intocável na aristocracia. Houve revoltas, revoluções burguesas... por exemplo com Cromwell, mas só a partir da Revolução Francesa a burguesia começa a tomar efectiva parte visível na governação europeia. O período industrial será determinante.

Uma das designações mais antigas para a moeda nacional é o Conto de Reis, remontando ao séc. XIV.
Um conto é suposto ser equivalente a um milhão, mas podemos ir mais longe na especulação sobre a origem da palavra... mais concretamente aos Contos das Mil e uma Noites
É bem conhecida a história de Xerazade com o califa Xariar, que a troco de uma estória todas as noites vai sendo poupada da morte anunciada. Para além das instrutivas estórias que aí se encontram compiladas, e que fazem parte da nossa juventude, é especialmente interessante a valoração do entretenimento do monarca.
Ou seja, numa corte despótica e dominante onde o tédio só era interrompido por sinais de batalhas, os simples contos instrutivos teriam um efectivo valor como moeda de troca. 
Não será assim de estranhar uma possível relação entre a designação monetária "conto de reis", com uma efectiva estória - um conto para reis. Idealmente seria um conto instrutivo para a plebe, mas com um significado implícito, secreto, acessível apenas pela elite.

O poder pode ser exercido explicitamente pela força, ou pela manifestação implícita de um factor dissuasivo no inimigo. A aristocracia valeu-se sempre muito mais da dissuasão do que da manifestação repressiva explícita, com o intuito de não incendiar revoltas. 
A moeda, enquanto cativador dos desejos materiais do povo, ao ser imposta como convenção social unificadora pela burguesia, permitiu-lhe uma efectiva arma dissuasora e assim ascender por direito próprio a um patamar mais elevado, aristocrata, onde só lhe estariam interditos alguns códigos e segredos milenares.

Apesar de quase indiscutível, a fragilidade desse poder, da moeda, baseia-se numa convenção social que pode ser abalada pelos valores que representa. Ou seja, uma sociedade alternativa pode ser constituída por simples substituição, ou recusa, da moeda actual. O descrédito da actual moeda, e dos valores associados, representaria o fim desta ascensão da actual burguesia, e dos laços que estabeleceu com a aristocracia anterior.
O valor da moeda reside numa fé de que ela será reconhecida como troca em qualquer transacção social. Serve razoavelmente as pretensões materiais, mas tem ainda como ameaça os valores espirituais ou morais, embebidos na sociedade, através da cultura e religião. Não é aí capaz de servir como moeda eficaz, vai contando apenas com a progressiva menorização desses valores, ao edificar uma sociedade materialista.

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(*)… o suporte ouro desvaneceu-se desde Bretton Woods e Nixon (1973).

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Cores (2)

As obras de arte que nos chegaram da Grécia Antiga, no seu período áureo, têm uma característica pouco mencionada - a ausência de cor! É claro que há suposições de que não seria assim, e podemos ver uma magnífica tentativa de reconstrução computacional do Parténon, com os seus frisos pintados:
Podemos acreditar que sim, mas o facto é tanto mais notório, quanto as próprias cerâmicas aparecem em tons monocromáticos (e.g. wiki).
Mas, há que distinguir períodos... um inicial dórico, ou anterior, contemporâneo da "colorida" civilização cretense, onde abundava os temas multi-cromáticos como ainda se vislumbram em Cnossos... 
Essa abundância de cor era ainda visível nas civilizações do Egipto e da Mesopotâmia.

Em Roma volta a notar-se a ausência de cor... podemos falar nos vários mosaicos coloridos, por exemplo de Pompeia... mas para além da cidade vitimada pela ira de Vulcano, os diversos mosaicos podem reportar-se a períodos mais tardios do Império Romano.

No seu período áureo, de feitos inauditos e celebrados, a cultura greco-romana aparenta ser monocromática!
Será que na mesma altura, isso se passaria com outras civilizações? Ou será apenas uma coincidência do legado cultural mais importante, que nos chegou?

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Mapas de Dieppe


Nos Mapas de Dieppe (ver, por exemplo, descrição em portugalliae) encontramos, para além de possíveis representações da Austrália... assunto sobre o qual não vale a pena insistir (é quase inquestionável que à época, c. 1547, a Austrália era já bem conhecida), encontramos nos frisos circundantes cenas evocativas de cariz mitológico. Neste primeiro friso, um governante Rei entrega a Hermes/Mercúrio uma mensagem que entrega a uma deusa dos mares, provavelmente Tétis. O pormenor mais interessante é a representada cidade com altas torres, envolta num certo cinzentismo, que seria mais apropriado para representa uma cidade industrial, 3 séculos depois. Nota-se ainda um sol poente sobre o mar habitado por ninfas...
No outro friso, a cena mitológica repete-se, com a entrega da mensagem a Diana/Artemisa, passando eventualmente por Marte e Vénus... Diana está numa quadriga!

A referência a este frisos com motivos mitológicos prende-se com os fados mitológicos que regressaram no Séc.XVI, sendo bem ilustrados nos Lusíadas de Camões.

Numa corte que durante um milénio negou o transporte por meio da roda, pode perceber-se até que ponto as condicionantes regressivas embebiam as políticas decididas. Essas políticas implícitas, secretas, que condicionaram o transporte, que condicionaram o conhecimento, só transpareciam subrepticiamente nas obras artísticas.
Podemos falar em condicionantes tenebrosas do obscurantismo religioso, mas é surpreendente o ressurgimento de toda a mitologia greco-romana no período renascentista.
À parte as variações na nomenclatura, os romanos adoptaram a mitologia grega. A conquista da Grécia/Corinto (146 BCE) está ligada a dois nomes que também tiveram relevância na Hispania:
- Quinto Cecílio Metelo, que derrotou os celtiberos e combateu Viriato,
- Lúcio Múmio Acaico, que foi pretor na Hispania.

Coincidência ou não, o mundo estagnou durante o milénio medieval em que se omitiu a mitologia greco-romana, ainda que prevalecesse o calendário juliano.

As navegações seriam retomadas oficialmente para as Américas quando houve uma chancela papal obtida por Colombo para navegar. Em Natal, Brasil, encontra-se uma coluna romana, denominada "capitolina"... (supostamente oferecida por Itália para comemorar um acto de aviação - fica o registo, abstendo-me de comentar o estranho presente da Itália nacionalista de Mussolini). 

Se em 1492 houve uma autorização de estender o território conhecido para as Américas, houve uma parcela significativa do mundo que permaneceu obscura. Compreendia basicamente toda a costa oeste americana, acima da Califórnia, e a Austrália. Só após 1775, quando os EUA se libertavam do jugo inglês, as viagens de Cook permitiriam abrir esse Novo mundo, reconhecido, visitado, mas oculto.
Cândido Costa, no final do Séc.XIX chega a falar em 5000 monumentos que atestariam evidências de presença pré-columbiana.

Será difícil de determinar se os jogos cortesãos eram produto de uma corte enfastiada, desejosa de mostrar a sua prevalência divina, ou se ainda acima disso, estariam sujeitos a determinações externas, para além das cortes europeias. Estariam os territórios ocultos abandonados, ou sob domínio civilizacional anterior?

Ou seja, tanto podemos crer que os territórios eram silvestres, abandonados sem propósito, ou albergavam um eventual paraíso terrestre, dominado por uma civilização tão antiga que controlaria as restantes, de tal forma superior, que seriam vistos como deuses. Afinal, o que distingue o homem actual do homem do Séc.XVIII senão pouco mais de dois séculos de civilização. 
Do mundo dos coches ao mundo dos foguetões pareceram bastar dois séculos de progresso... quantos dois séculos houve na história da humanidade? Quantas vezes houve oportunidade de dar o salto para um avanço tecnológico significativo? Desde egípcios, babilónios, gregos, hindus, chineses, houve inúmeros avanços da ciência interrompidos para só serem retomados após o renascimento. Estagnações de milénios para rompantes avanços num par de séculos... Estagnações de facto, ou induzidas?

Termino com o mote para o próximo post:


... porque, para além das cortes europeias, estes Magos, de barretes frígios, quais portadores da revolução republicana, foram intervenientes pontuais em várias Estórias.
Figuraram em histórias, em nomes de ilhas, praias, terras, fortes, mas a sua proveniência foi sempre misteriosa e aclamada.