sábado, 10 de junho de 2017

Caral-chupa-cigarro, berrões e Gobekli Tepe

Os nomes são de dois locais, com as mais antigas construções registadas: 
Caral-Chupa-cigarro e Bandurria são as mais antigas encontradas na América; (Perú ~ 3000 a.C.) 
Gobekli Tepe tem a datação como mais antiga do mundo (Turquia ~ 10 000 a.C.).

As construções de Caral (esq.) e Bandurria (dir.), no deserto costeiro peruano.

A descoberta destas construções é recente, basicamente tornaram-se conhecidas na transição para este milénio. Soube da existência de Caral por um comentário do José Manuel num texto que publiquei sobre Gobekli Tepe (há quase 7 anos):

Acerca da cultura de Caral, no Perú tem a particularidade de ser contemporânea ou até anteceder as primeiras grandes construções no Egipto, mostrando algumas semelhanças de estruturas pirâmidais, que podem ter influenciado as civilizações seguintes, chegando aos Incas, Maias e Aztecas. Há ainda figuras no solo, que podem anteceder as que se encontraram no deserto de Nazca. 
Mas, por outro lado, essa cultura de Caral apresenta figuras em alto relevo e esculturas razoavelmente diferentes (nalguns aspectos semelhantes a outras encontradas em Jericó e em Ain Ghazal, Jordânia):
Alto relevo (esq.) e esculturas (dir.) na Zona de Caral-Chupacigarro 

Conexões entre o observado no Perú e em Gobekli Tepe foram já interpretadas por Hugh Newman neste texto: 
mas não é sobre esse ponto que irei focar neste texto.


Berrões em Gobekli Tepe
Interessa-me reiterar a comparação que em 2010 coloquei entre algumas estátuas vistas em Gobekli Tepe e os berrões (as esculturas de porcos, javalis), tão comuns em Portugal, que praticamente coabitam com a paisagem nas vilas mais antigas, sendo o berrão mais conhecido a chamada Porca de Murça (ou os Touros de Guisando, em Ávila, Espanha).
Vejamos uma pequena comparação entre o que encontramos em Portugal, e o que também aparece em Gobekli Tepe:

 
Berrões em Trás-os-Montes, estando o da direita na Torre de Dona Chama (em Mirandela).

Em baixo, estátuas de 3 berrões no museu em Gobekli Tepe (esq.) e um outro (dir.):
 

Esta comparação ocorre em paragens e tempos bastante diferentes, que se unem pelo nome antigo comum de Ibéria - no Cáucaso e na península ibérica. Mas a semelhança das formas acaba por ser evidente, no uso de um único bloco de pedra, esculpidos de forma semelhante... e veja-se o detalhe da presa, que evidencia um proeminente canino inferior.
Como a datação dos berrões portugueses é apenas especulativa, e sem uso do carbono 14, as esculturas, que estão normalmente abandonadas, e mal tratadas, são associadas a um período pouco anterior à invasão romana - normalmente o séc. II ou III a.C.

Malas em Gobekli Tepe
Por outro, também conforme já fizemos um texto sobre a representação de bolsas num período pré-histórico, nomeadamente numa comparação entre as bolsas dos Anunaki e as bolsas representadas na pinturas rupestres da serra da Capivara:

veja-se o caso das representações mesopotâmicas e brasileiras:

Bolsas dos "Anunaki" na Mesopotâmia (em cima), e pinturas rupestres no Brasil (em baixo):

A esses dois aspectos, junta-se ainda a observação de que tais representações de bolsas também estão presentes em Gobekli Tepe (como referido num comentário):

As 3 bolsas ou malas, esculpidas em Gobekli Tepe.

... e portanto vemos que há uma certa influência, quase mundial, na escolha de temas, em tempos pré-históricos. Como já falámos do tema do uso dessas bolsas, que permanece uma estranha incógnita no seu propósito, não vamos especular mais.

Gobekli Tepe - uma cápsula temporal
O caso de Gobekli Tepe tem ainda uma outra particularidade, que não é muito referida, mas que junta mais mistério ao achado. É que se concluiu que o santuário teria sido enterrado propositadamente, e assim ficou guardado de outras interferências, até que foi desenterrado em 1995... funcionando assim como uma cápsula do tempo, que se prolongou por 12 mil anos.
Portanto, tal como aconteceu em muitos montes que esconderam dólmens no seu interior, e que se encontram espalhados pela Europa... veja-se o caso da Andaluzia, com os dólmens de Antequera - por exemplo, o dólmen de Menga, o dólmen de Viera, e o tholos de El Romeral, também no caso de Gobekli Tepe, um monte tapou o local, não fazendo suspeitar durante muitos séculos que em baixo de um monte turco, estariam as ruínas de um complexo arquitectónico vindo do final da Idade do Gelo.

Tholos de El Romeral - vista exterior do monte (esq.) e vista interna (dir.)

Já referimos também como estes montes artificiais, como as mamoas, podem ter sido usados como forma de garantir a estrutura do dólmen, mas há uma grande diferença entre Gobleki Tepe e os dólmens de Antequera e outros, encontrados nas ilhas britânicas ou mediterrânicas... é que Gobleki Tepe tem uma datação atribuída de ser 6 mil anos mais antiga.

Vemos ainda que o tipo de escultura dos chamados "guerreiros lusitanos" não parece ser muito diferente de estátuas encontradas em Gobekli Tepe:

 
Guerreiros lusitanos (citânia de Sanfins, e Museu de Arte Antiga) - esquerda e centro;
Escultura de homem em Gobekli Tepe - direita.

Na comparação entre estas estátuas, vemos uma pose semelhante - ambos têm os braços juntos ao corpo, fazendo depois segurar algo nas mãos - no caso dos guerreiros lusitanos, foi pensado ser um escudo, no caso de Gobekli Tepe não se identifica nenhuma arma... mas as semelhanças de postura e estilo, não se deixam de colocar.

Não é nada claro, conforme se tem pretendido, que Gobleki Tepe seja um caso único, mesmo que haja quem diga poder ter sido ali o "Jardim do Éden", dado que fica entre as nascentes dos rios Tigre e Eufrates. Poderão haver outros montes que encerrem ainda vários segredos, talvez tão ou mais antigos do que Gobekli Tepe.  
Fica a questão de saber se, ao fecharem o santuário, se tratou de encerramento ou ocultação?

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