quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

do Sótão (5) «Fernão de Oliveira (3)»

O rascunho seguinte resultou de uma troca de comentários, e à partida pouco mais tem que isso. Assim, o mais natural era deixar ficar... porém há uma coisa que não percebi, e como já se passaram 4 anos, não me lembro por que razão o coloquei como sequência de textos sobre Fernão de Oliveira:
Ora, como prezo estes textos sobre Fernão de Oliveira, deveria haver algo relevante para a sequência continuar... no entanto, apenas escrevi dois parágrafos, coloquei as figuras e deixei ficar! Passado este tempo, não sei o que pretendi dizer, mas não seria nada de extraordinário...

____________ 13/06/2013 _____________
Ao contrário do que poderá parecer, eu prefiro que as versões e teorias existentes façam sentido, e dá-me demasiado trabalho ter que pensar nas alternativas. O problema é que na maioria das vezes não fazem, são completamente arbitrárias... podia ser aquilo como aqueloutro, ou mais uma centena de possibilidades.

Resulta isto ainda a propósito da origem do galaico-português. Ficam sempre coisas por dizer, e uma delas é notar que os galegos ainda falam a mesma língua... e dados os 870 anos de separação política, as reformas de D. Dinis não afastaram o português assim tanto do galego, nem o galego se perdeu no longo domínio castelhano. Portanto, temos também ali um exemplo de tradição de pais para filhos que se prolongou por 40 gerações, porque, enfim, os pais têm aquele costume de ensinar aos filhos a língua que aprenderam, e usam a antiga, não inventam uma nova... 

____________ Comentário 12/06/2013 _____________
Os nomes de deuses lusitanos são engraçados!
Por exemplo, Endovelico pode ser só "endobélico" cuja composição endo+bélico significaria "guerra interna".

Alguns desses nomes parecem vir de interpretações de inscrições. 
Imagine que alguém escrevia numa pedra "Xico é o maior da bola". Passados uns milhares de anos, podia entender "o maior" como "o líder", e "bola" como Terra. O tal investigador concluíria da inscrição "Xico era o líder da Terra".
Estou a beneficiar as coisas, parece pior que isto! 
Conclui-se muito mais com muito menos.

Na prática, os textos que têm alguma credibilidade são os que estão em grego e latim, o resto é muitas vezes pura adivinhação. O caso das poucas coisas escritas, atribuídas a uma língua lusitana, é elucidativo e engraçado.
Dou-lhe um exemplo, a inscrição
"ISACCID·RVETI·PVPPID·CARLAE·ENTOM·INDI·NA.[...·OM·"
mas pode também ser lida:
"ISAC CID, E VETI, CUPPID, CARLA E, ENTOM, INDI NAOM"
... o que com pronúncia do povão dá literalmente:
"Isac Cid, eu vi-te, Cupido. Carla é. Então, ainda não?"


Ou seja, pode ser perfeitamente um registo de um pastor face aos amores do outro...  Aliás, a pedra em causa é tosca, só serviria mesmo para uma mensagem.
Por isso, o seu "Cariocecus" pode perfeitamente vir de uma inscrição ao estilo "Cá rio seco", não sei!
Faz-se isto facilmente com as inscrições. Mas, há interpretações mirabolantes, eruditas, mas muitíssimo mais fantasiosas do que basear literalmente no que resta da nossa fonética campesina.
Outra... 
Inscrição em Cabeço das Fráguas (imagemlink anterior)

é tido como:

OILAM TREBOPALA - Ovelhas para Trebopala
INDI PORCOM LA3BO - E porcos para Laebo
COMAIAM ICCONA LOIM - Comida para Icone luminoso
INDA OILAM USSEAM - Uma ovelha de um ano,
TRE[BA]RUNE [INDI] TAUROM - para Trebarune e touros
IFADEM REUE... - Ifadem para Reve

À conta desta interpretação foram definidos os "deuses" Trebopala e Trebarune... eh! eh!
Ainda por cima há letras que são claramente adivinhações.

No entanto, repare:
OILAM = Olham (experimente escrever "olham" sem usar a convenção do LH).

PORCOM, LAMBO, COMEIAM, ... indiciam outras coisas, mas não vou tentar traduzir tudo, por pudor. Tem sempre interpretações que levam a fonética nacional... mas isso é politicamente incorrecto.

Note que de acordo com o som latino, sem convenções modernas (apareceram com D. Dinis) as palavras seriam escritas doutra forma. Com o mito de que os lusitanos eram bestas das cavernas, aquelas inscrições vulgares em pedras insignificantes passam por coisas importantes, a deuses, etc... é fino, é erudito! Se olhar para as paredes de Pompeia, estão cheias de insultos, asneiras, e "desenhos explícitos". Depois, há ainda pedras oficiais, mesmo em latim, onde só escreviam abreviaturas. 

Já falei disso aqui: http://alvor-silves.blogspot.pt/2012/12/conan-o-bretao.html

Há uma lenda de St. Ursula e das 11 000 virgens. Ora, há quem diga que isso resultou duma inscrição
XI M V
onde alguém leu o M V como "Mil Virgens", e deveria ter lido "Mártires Virgens"
... ou seja eram só 11.
... um M dá para passar de 11 para 11000.

Assim dá para perceber algumas confusões que têm sido feitas!


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